
IV – Reunião
A grande mesa em algum lugar na Câmara dos Vereadores local estava bastante movimentada. Vereadores, ministros do estado, políticos influentes, o prefeito e até mesmo representantes do governo federal se encontravam ali, para discutir a sociedade como se fosse um brinquedo de encaixar. O prefeito só se dava o trabalho de encontrar os vereadores na câmara para discutir questões formais em ocasiões muito especiais. E esta com certeza era uma situação muito especial.
Silêncio total. Todos já haviam se cumprimentado e sentado-se à mesa. O ministro da justiça franzia a testa e mordia a língua impaciente. Um dos vereadores, muito educado, devorava vigorosamente um farto sanduíche. O governador do Estado usava um refinado paletó inglês. O prefeito, um terno risca de giz. O Secretário Municipal de Segurança Pública, quebrou o silêncio: “Todos sabem” Disse ele “Que eu os convoquei aqui por uma causa muito especial”.
“Desentupir privadas” Debochou um dos vereadores. André Couto Lopes fora eleito Governador de Estado com a promessa de “desentupir as privadas da sociedade”. Depois de acabado o mandato, passou a ser Secretário de Segurança Pública
André fingiu não ter ouvido, e continuou seu discurso: “Como todos sabem, uma onda avassaladora de crimes terroristas tem invadido a cidade. Até agora foram diagnósticados dezoito casos de envenenamenton em massa, um de incêndio, um de explosão e um de implosão — acontecimentos que atraíram a atenção da imprensa internacional — em uma semana. Todos em locais públicos. Mil, setecentos e vinte e nove mortos. Dois feridos. Temos que tomar alguma atitude. E vai ter que ser agora.”
“Senhor Arnaldo” Disse o prefeito. “André.” Corrigiu rispidamente André. “Ou isso” O prefeito continuou. “Eu, particularmente não vejo necessidade de tamanha reunião para tal fim. Tudo o que devemos fazer é apenas seguir o protocolo, como sempre.
“Danem-se os protocolos!” Rebateu zangado o secretário. “Se continuarmos seguindo protocolos, quem quer que seja que está fazendo isto vai continuar fazendo! Temos que pensar! Não sei se vocês sabem o significado da palavra, mas é muito importante! Pensar!” O Governador de Estado abafava o riso: “Então, senhor André.” Ele começou em tom de deboche. O governador e o prefeito tinham uma antiga rivalidade com o secretério de Segurança Pública. “Vamos pensar. Qual é o principal objetivo dos crimes terroristas? Causar medo à sociedade. Então, meus caros, tudo o que devemos fazer é proibir a imprensa de publicar qualquer notícia sobre esses crimes. Depois, começamos a investigar e pronto.” “Gostei” Disse para variar o prefeito, que sempre fazia tudo o que o governador mandava. “Alguém tem outra proposta?” Silêncio. “Então vamos começar a votação”
O governador saiu para ter um acesso de tossem, e todos começaram a votar em voz alta, um por um. Metade dos vereadores votaram contra e metade votou a favor do plano do governador. O resto votou a favor. “Bem,” Disse o prefeito “agora que a votação acabou, não vejo motivos para continuar aqui. Muito obrigado, senhores, mas, tenho que ir.” O Secretário André levantou-se apressado: “Permite que eu o acompanhe, senhor?” E desandou a andar ao lado do prefeito. Eles saíram da câmara. “Belo smoking” Observou o prefeito para André, que continuou andando, despediu-se do prefeito, e tomou seu rumo.
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Perto dali, em um lugar qualquer debaixo da terra, um homem alto, magro e narigudo dizia para outro ao seu lado: “Você falhou mais uma vez, Luca. Não posso te perdoar desta vez.” Luca gemia: “Por favor, senhor...” “Não!” Cortou o outro, ríspido. É a terceira vez que você me diz isso. Iríamos providenciar tudo. Por que fez aquilo?” “Eu... eu não sabia... eu... eu achei que...” “Cale-se. Chega. De qualquer forma, não precisamos mais de você.” “Não... por favor...” “Você tem sorte” O outro falava “Por eu estar com pressa. Se eu não estivesse, poderia torturar você. Não vai doer nada” E sacou um revólver. “Não... por favor, não. Eu tenho filhos para sustentar...” “Já chega.” E atirou. Depois, o silêncio.
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