quarta-feira, 28 de abril de 2010

Coletânea de Poemas II

Bem, muitos aqui já conhecem marc perrault, um poeta que já foi postador do Magia dos Textos anteriormente e agora é o coletador de poemas oficial.

Ok. Pretendo começar mostrando a vocês poemas de autores que deveriam… como dizer… quem não lê esses autores deveria ser considerado analfabeto; e mostrando os contrastes entre esses autores. E se você quer fazer poesia, melhor acompanhar este quadro.


Bem, aqui vai o primeiro: T.S Elliot, que, você ache bom ou não, é um clássico. Vou postar um de seus poemas mais famosos, Terra Desolada, traduzido por Ivan Junqueira, em cinco postagens, cada uma contendo uma das cinco partes do mesmo.

A primeira se chama “O enterro dos mortos”. Eu sei que tem linguagem formal e complicada, mas pensem no conhecimento que vocês adquirirão lendo. Além do mais, o poema é ótimo.

I. O ENTERRO DOS MORTOS

Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
O verão nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
E ao sol caminhamos pelas aléias do Hofgarten,
Tomamos café, e por uma hora conversamos.
Bin gar keine Russin, stamm' aus Litauen, echt deutsch.
Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam, nem te consola o
canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.
Frisch weht der Wind
Der Heimat zu
Mein Irisch Kind,
Wo weilest du?
"Um ano faz agora que os primeiros jacintos me deste;
Chamavam-me a menina dos jacintos."
- Mas ao voltarmos, tarde, do Jardim dos Jacintos,
Teus braços cheios de jacintos e teus cabelos úmidos, não pude
Falar, e meus olhos se enevoaram, eu não sabia
Se vivo ou morto estava, e tudo ignorava
Perplexo ante o coração da luz, o silêncio.
Oed' und leer das Meer.
Madame Sosostris, célebre vidente,
Contraiu incurável resfriado; ainda assim,
É conhecida como a mulher mais sábia da Europa,
Com seu trêfego baralho. Esta aqui, disse ela,
É tua carta, a do Marinheiro Fenício Afogado.
(Estas são as pérolas que foram seus olhos. Olha!)
Eis aqui Beladona, a Madona dos Rochedos,
A Senhora das Situações.
Aqui está o homem dos três bastões, e aqui a Roda da Fortuna,
E aqui se vê o mercador zarolho, e esta carta,
Que em branco vês, é algo que ele às costas leva,
Mas que a mim proibiram-me de ver. Não acho
O Enforcado. Receia morte por água.
Vejo multidões que em círculos perambulam.
Obrigada. Se encontrares, querido, a Senhora Equitone,
Diz-lhe que eu mesma lhe entrego o horóscopo:
Todo o cuidado é pouco nestes dias.
Cidade irreal,
Sob a fulva neblina de uma aurora de inverno,
Fluía a multidão pela Ponte de Londres, eram tantos,
Jamais pensei que a morte a tantos destruíra.
Breves e entrecortados, os suspiros exalavam,
E cada homem fincava o olhar adiante de seus pés.
Galgava a colina e percorria a King William Street,
Até onde Saint Mary Woolnoth marcava as horas
Com um dobre surdo ao fim da nona badalada.
Vi alguém que conhecia, e o fiz parar, aos gritos: "Stetson,
Tu que estiveste comigo nas galeras de Mylae!
O cadáver que plantaste ano passado em teu jardim
Já começou a brotar? Dará flores este ano?
Ou foi a imprevista geada que o perturbou em seu leito?
Conserva o Cão à distância, esse amigo do homem,
Ou ele virá com suas unhas outra vez desenterrá-lo!
Tu! Hypocrite lecteur! - mon semblable -, mon frère!"


O segundo poema que vou colocar para vocês aqui hoje é de Lewis Carrol (sim, o de Alice), e se chama A morsa e o carpinteiro. Eu infelizmente não sei de quem é essa tradução, pois não encontrei a que queria. Assim que encontrar, prometo substituir. Apreciem:


O Sol rebrilhava feliz sobre o mar,
Brilhava em pleno poder;
Feroz procurava as ondas tornar
Brilhantes também e tranquilas correr -
E isso era estranho, porém, ao se ver
Que era meio da noite!

A Lua brilhava também, amuada,
Porque achava que o Sol
Não tinha motivos para fazer nada
Depois do crepúsculo, antes do arrebol -
"Mas que grosseria!" - dizia - " um farol
Atrapalhar meu plantão!"
O Mar era úmido e todo molhado
As areias eram secas, porém,
Não se via uma núvem no céu estrelado
Porque não saíram as núvens também -
E as aves não piam, as aves não vêem
Que o Sol retornou!

A Morsa marchava ao longo da praia,
Ao lado do Carpinteiro;
Choravam ao ver quão extensa era a raia
De areias aos montes, num grande terreiro -
"Vão ter de chamar o carroção do pedreiro
E fazer um aterro!"

"Se sete criadas com sete esfregões
Varressem metade de um ano" -
Indagou a Morsa - "estes areiões
Poderiam ser limpos pelo esforço humano?" -
Falou o Carpinteiro "Descreio do plano" -
Soltando uma lágrima triste!

"Vinde, Ostras queridas, conosco passear!"
-A Morsa gentil convidou.
"Um passeio agradável, à beira do mar,
Na praia salgada que o vento agitou." -
"Subam quatro somente" - depois ajuntou -
"E todos daremos as mãos!"

A Ostra mais velha apenas olhou,
Sem nem ao menos falar;
A Ostra mais velha seus olhos piscou,
Meneando a cabeça, como a revelar -
Que o leito das ostras não ia deixar
No fundo do Oceano!

Mas quatro das Ostras mais jovem subiram,
Ansiosas pelo passeio:
Lavaram o rosto, os cascos vestiram,
De sapatos lustrados, sem terem receio -
De mostrar por este ou qualquer outro meio
Que nem tinham pés!

E logo quatro das Ostras nadaram
E mais outras quatros surgiram;
Em um bando radiante a areia alcançaram
E outras e outras a praia atingiram -
Saltaram as ondas, à margem subiram,
Dançando em folia!

A Morsa avançou, junto ao Carpinteiro:
Quilômetros e meio marcharam
Juntaram um monte de pedras primeiro
E uma espécie de mesa depois prepararam -
Ao redor as Ostrinhas também se assentaram
Esperando uma história!

A Morsa exclamou: "A hora é chegada!
Temos mil coisas para conversar:
Sapatos, veleiros e cera encarnada
E lacre e repolhos e Reis proclamar! -
Porque esta noite fervente está o mar
E os porcos criaram asas!"

"Esperem um momento!" - As Ostras gritaram -
"Depois iniciamos a conversação:
Estamos sem fôlego, nossos pés se cansaram,
Nós somos gordinhas - tenham compaixão!" -
Falou o Carpinteiro: "Esperamos, pois não?!"
E as Ostras agradeceram!

"Precisamos agora de uma bisnaga de pão" -
Disse a Morsa, contente.
"Pimenta e vinagre na palma da mão
E um pouco de sal, que se espalha frequente -
E agora, se está pronta a assembléia presente,
Começamos a comer!"

As Ostras gritaram: " Vão nos devorar?
Não façam! Piedade!
Nós somos amigas! Não podem matar
Depois da conversa e passeio: é maldade! -
E a Morsa responde, com sinceridade:
"Gostaram da vista, não foi?"

"A sua visita nos deu muito prazer,
Foi uma delícia este dia!"
O Carpinteiro contentou-se em dizer:
"Por mim está ótimo -outro assim me servia -
Por favor, me corte mais uma fatia:
Eu quero mais pão!"

A Morsa falou: " Estou envergonhada,
Foi um truque cruel!
Trazê-las aqui, nesta caminhada,
Cmo se fossem pelotão de quartel" -
E o Carpinteiro limpou num papel
As mãos sujas de manteiga!

"Chorei por vocês" - a Morsa falou - "Com profunda simpatia".
Aos soluços, fungando, ela devorou
As Ostras maiores que via! -
E, nos intervalos, seu lenço trazia
E secava suas lágrimas!

" Ostrinhas queridas" - falou o Carpinteiro -
"Pra mim este dia foi muito feliz!
E, agora, voltemos pra casa ligeiro!..."
Mas nenhuma resposta se escuta ou se diz -
Aquelas que o bom Carpinteiro não quis,
Foram todas comidas pela Morsa primeiro!...



Agora, Shakespeare. William Shakespeare, famoso dramaturgo inglês, também é um famoso poeta. Vejam um dos sonetos dele (pretendo postar mais):


SONETO LXV
Se a morte predomina na bravura
Do bronze, pedra, terra e imenso mar,
Pode sobreviver a formosura,
Tendo da flor a força a devastar?
Como pode o aroma do verão
Deter o forte assédio destes dias,
Se portas de aço e duras rochas não
Podem vencer do Tempo a tirania?
Onde ocultar - meditação atroz -
O ouro que o Tempo quer em sua arca?
Que mão pode deter seu pé veloz,
Ou que beleza o Tempo não demarca?
Nenhuma! A menos que este meu amor
Em negra tinta guarde o seu fulgor.


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